domingo, 28 de maio de 2023

Um sol ou uma Estrela? Ah sim, Nhamandu!

Embora não estivessemos ansiosos pela consagração, nós fomos. Dia 27/05/2023, um dia um pouco mais quente que o normal, mas chuvoso. Tinhamos acabado de sair do aniversário da Julia que fora, vamos combinar, meio pesado de início. Sorte que as coisas se acalmas, já estava melhor quando saímos. Quando chegamos à casa de reza muitas pessoas ainda não haviam chegado. Parecia vazio e quieto demais. Brincamos com o Igor e a Iza até que todos chegassem. A consagração foi antes dos cânticos e danças, desta vez não participamos de início, apenas tomamos o chá e sentamos na cama. Era muito mais forte desta vez. A intensidade fora triplicada, logo veio a ansia, mas sem vômito. Então me coloquei em posição meditativa e me concentrei para abrir meu olho espiritual, quando finalmente abri eu ví, mais brilhante que qualquer luz que já tenha visto. Nhamandú estava no céu, em palácios de ouro e núvens. Ao seu lado vi Tupã, com sua luz fria, mas ainda tão forte e intensa que baixei o olhar no mesmo instante. No início me foi concedido um vislumbre de como seria ter um filho. Era um menino loiro, meio careca de uns 2 anos. Corria pela casa, subia em cadeiras, escadas e pernas. Era atívo e lindo. Tinha tanto amor nele quanto é possível se imaginar em uma criança. Me perguntei como poderia tê-los. Nhamandu me deu o comando de me prostrar e curar minhas ansestrais, todas suas gerações e dores. me ajoelhei, toquei com a testa o chão e cobri meu rosto com as mãos. Lá eu vi cada uma delas sendo curadas, até que chegou na minha Uma, a estrela mais vibrante e cheia de amor que existe em minha vida. Vibrei muito amor e saúde para ela, mandei beijos e luz, mas quando chegou em minha mãe o processo mudou. A dor, a tristeza, a raiva, tudo veio à tona, eu senti que estava lá por ela então aceitei sua dor e deixei fluir, quando fui chamada para a segunda rodada vomitei. Saiu um pouco do peso, mas aos poucos foi passando, conforme ia percebendo que não precisava passar por sua dor, já que aquela fora minha dor em muitas partes da minha vida. Então eu amei minha mãe, incondiocionalmente, assim como tem que ser. Entendi que não é necessário cura, mas sim amor, para renovar o futuro aceitando o passado. Passada a experiência acabai tendo contato com o Luiz, que me puxou a atenção. Depois disso o silencio e o vazio. Eu era forte, soturna e tranquila. Estava em equilibrio, Podia sentir quase todos da casa, esceto pelo Maycon, eu se fecha, não deixa a luz entrar. Me senti um pouco incomodada, como se faltasse algo, ou como se algo estivesse errado. Quando chegamos fizemos tudo errado. Comemos doces, chapamos, comemos frituras e gorduras e piramos. À noite quando etsava fazendo fogo tive uma visão do Luiz como guia e chefe de linhas de frente na luta pela vida indígena e eu sumi. Tudo o que eu eu pensava saber e acreditava ser verdade caiu por terra, não seria mais uma artista, ou a melhor professora, ou a Xondari mais iluminada, afinal era apenas uma projeção do meu ego, o tempo todo fora isso, então eu perdi meu chão. Agora me basta recosntruir o que eu acredito ser eu de verdade.

Mês que se passou

Como estou fazendo o relatório atrasado, algumas informações ficarão de fora. Nas primeiras semanas foi calmo, com amor e paz. Aos poucos fui ficando irritada e cansada, questionando muita coisa, muita raiva aconteceu, a mestruação desceu e a dor de não estar grávida ressurgiu. Na ultima semana foi a culpa e a anestesia, estava pensando, agindo e falando da forma errada, muito egoísta e falante (fofocas para ser sincera) ao ponto de falar o que não devia sobre coisas que não eram minhas. Não tinha plena certeza se queria ir à consagração, maas iremos mesmo assim. É o próximo passo.

Só alegria, tristeza é doença!

A primeira sessão foi cheia de ansiedade e expectativas. Estavamos esperando algo, só não sabiamos o que. Foi num sábado, dia 22/04/2023. Estava bem frio, tanto que levamos cobertas e casacos, mas não foram suficientes. Foram 3 doses em copo de café, esparçadas num período medio de 3 horas entre elas. São Chamadas de RODADAS. Era muito comum ouvir os Xondaro (guerreiros que guiam as almas pelo caminho da cura) falando sobre algo que "está chegando" e a frase: "Só alegria, tristeza é doença." Era um ambiente alegre e acolhedor. Fomos muito bem recebidos, tanto que nos sentimos em casa desde o primeiro momento. Foi nos dito que nossas almas já estavam lá, antes mesmo de irmo para a CASA SANTA -uma casa de pau a pique construída para cerimonias religiosas onde é necessária a concentração dos elementos e energia- acredito eu ser por no dia anterior termos passado pela casa em um passeio turístico. Os Xondaros fizeram uma explicação do que iria acontecer e do que poderiamos já esperar. Estou hoje na minha busca pelo auto-conhecimento à quase cinco anos, já passei e revivi muitas coisas, me curei e reabri feridas para limpá-las. Chorei, sorri, sonhei, mas sempre sozinha, com mantras em sânscrito, incensos e canabbis, em alguns momentos foram meditações guiadas, outras livros, outras músicas e mais meditações e yoga. Enfim foi um caminho longo que aos poucos me mostrou o quanto era ferida pelo tempo que vivi neste corpo. A cerimônia iniciou com preces, cânticos e danças típicas guarani, Nós dançamos e tocamos maracas no processo musical. As canções e orações eram entoadas ao vivo. Ao fim das danças todos os que iriam participar deviam se aproximar e pegar um copo com a consagração. Tomei um copo cheio, pelo que parece, mais do que a média consegue tomar. NOs sentamos e esperamos enquanto a música reproduzida no rádio tocava em um volume intenso e alto. As músicas já nos eram familiares, afinal usamos muitas das mesmas nas práticas meditativas e de yoga ou mesmo alongamento. Nada muito especial aconteceu, foi uma sensação leve de contentamento e paz, mas no fundo algo estava querendo sair, muito muito no fundo mesmo. Quando fomos para a segunda rodada muita coisa aconteceu. Aos poucos as visões vieram, junto com sensações e transes profundos. Eu queria experimentar, ver as possibilidades, o que eu poderia construir naquele estado da mente. Em um momento de equilibrio retornei para dentro e busquei minhas feridas. Busquei a mais dolorosa, que é a busca pela cura para estas sessões: Não posso ter filhos, ou pelo menos não os tive ainda, mesmo estando com 33 anos. Quando desci na profundidade do que estava sentindo, percebi que não tinha sido amada como uma criança precisa, que toda dor acumulada estava presente em forma de raiva e rancor. Mergulhei ainda mais e chorei, deixei sair toda a dor, deixei limpar. Aos poucos foi acalmando, fui novamente entrando em sintonia com o vento, com a terra, e descobri minha paz. Mantive essa paz por alguns dias depois da consagração, principalmente mergulhada em uma música que me embalou pela minha viagem. Chama-se Mensageiro do amor (beija-flor), não me recordo de quem é, mas leva sua alma em seus embalos e guia a luz até seu caminho. Ao final comemos algumas coisas preparadas pela comunidade, tomamos café e conversamos, muito sobre toda a prática, trocamos informações e experiências. Viemos para casa e ficamos na cama até dormir.